Hoje venho com a indicação de uma série incrível! Essa série é baseada no livro Vulgo Grace da Margaret Atwood, a mesma autora de O Conto de Aia. A partir daí já podemos ter ideia de como essa série deve ser, não é? Incrível!
Margaret Atwood foi uma autora que me encantou desde que li O Conto de Aia. Infelizmente não li Vulgo Grace, o livro é meio caro, mas pretendo. "Ah, você viu a série primeiro?". Sim. Estava tão curiosa e vocês vão entender o motivo!
Grace Marks (Sarah Gadon) é uma Irlandesa protestante que se mudou para o Canadá com a sua família em busca de uma vida melhor. Viu a sua mãe morrer durante a viagem até o Canadá, foi abusada pelo pai alcóolatra, obrigada a sair de casa aos 16 anos para trabalhar, além das injustiças que aos poucos foi percebendo que as mulheres sofriam, já que eram vistas como empregadas e somente isso. Sociedade patriarcal vocês podem imaginar como era. Por isso, quando viu a oportunidade de um emprego melhor, não pensou duas vezes. Consequente a isso, foi contratada para trabalhar em uma fazenda mais afastada, cujo dono era Thomas Kinnear (Paul Gross), um homem bem conhecido na região.
Contudo, ao invés de tudo melhorar, só desandou. Grace foi condenada à prisão perpétua pelo assassinato do seu patrão e da governanta Nancy Montgomery (Anna Paquin). Na época ela foi poupada do enforcamento, diferentemente de James McDermott (Keer Logan), um rapaz que trabalhava na fazenda também. Na verdade não sabem ao certo quem de fato foi o culpado do assassinado, já que naquela época ninguém soube resolver o caso.
Por isso, o médico psiquiatra Dr. Jordan (Edward Holcroft) é chamado para tentar resolver a grande questão. É a partir daí que a trama toda acontece. Grace conta os acontecimentos e a cada minuto queremos saber mais e mais (aliás, madruguei assistindo). Mas a questão é: a Grace conta a versão verdadeira ou a que as pessoas querem ouvir?
O tema principal dessa série vai além da “culpa ou inocência”. Vemos toda a trajetória da Grace: os julgamentos e injustiças e, além disso, percebemos que todos adquirem um saber a respeito de sua história, que é moldada de várias formas. Ela foi tão julgada e mal interpretada ao longo da vida que aprendeu a usar o patriarcado ao seu favor.
A série é composta de seis episódios que tratam não somente o caso de assassinato, mas também aborda assuntos como aborto, assédio, intolerância, desrespeito com o imigrante e a questão do papel da mulher. Esses assuntos são trabalhados de forma sutil e, por mais que seja uma história do século XIX, percebemos traços desses mesmos problemas no século em que vivemos.
Confesso que achei tudo impecável. O elenco todo trabalhou de forma incrível, todos os papéis foram tão bem interpretados que senti cada angústia. Tinha vontade de entrar na série e socar a cara de certas pessoas ou arrumar tudo de errado. A Sarah Gadon interpretou a Grace de uma forma tão incrível! A protagonista é uma personagem muito complexa e cheia de ambiguidade, e ela soube mostrar todas as facetas e nos trazer questionamentos sobre o que está certo ou errado – coisa da qual no final da série eu descobri que não existe, irônico ou não, mas se você assistir vai me compreender. Enfim, é difícil ler Grace Marks e desvendá-la.
Além da Sarah Gadon tenho que comentar também sobre os outros personagens. A Anna Paquin soube interpretar a governanta de forma impecável. Ela mostrou a ambiguidade da personagem entre querer o status, mas continuar sendo só mais uma empregada. A Anna transmitiu um olhar tão angustiante que me arrepiou toda.
Vou ficando por aqui para não dar spoiler!
Alias Grace foi uma série que assisti em Novembro e entrou nos meus favoritos da vida!
Li uma pergunta uma vez em um site (link) e vou deixar o mesmo questionamento para vocês: quando pensamos que a personagem manipula aqueles que a rodeiam, é por que sabemos que ela já foi condenada por um crime, por que a história dela tem pontas soltas demais ou apenas por que fomos criados a pensar que todas as mulheres devem sempre ser questionadas quando ousam bater de frente com o patriarcado?