DIREÇÃO: Daniel Goldhaber
ROTEIRO: Isa Mazzei
ELENCO: Madeline Brewer, Patch Darragh, Melora Walters, Devin Druid, Imani Hakim, Michael Dempsey
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Alice (Madeline Brewer) é uma
mulher que trabalha com pornografia online usando o pseudônimo de Lola.
Almejando chegar ao TOP 50, ela se submete a encenações bizarras para
conquistar o seu público (algumas inclusive envolvendo um falso suicídio). Após
ir a uma casa especializada de cam girl e fazer uma live com a sua amiga, Lola
percebe que não consegue mais entrar em sua conta. Além de ser hackeada, alguém
idêntica a ela está fazendo lives e conversando com todos os seus seguidores –
e, claro, ganhando dinheiro e subindo no ranking. Lola desesperada corre contra
o tempo para descobrir quem está por trás de tudo isso, mas as coisas acabam
ficando cada vez mais complicadas e difíceis de serem solucionadas.
Em meio a tons de roxo e rosa
vibrantes, Lola entra em uma jogada cibernética perigosa que a coloca em risco.
Não quero dar Spoiler então irei
parar por aqui, mas eu teria muitas coisas para falar sobre o enredo.
Durante o filme vemos a
flexibilidade incrível da Madeline Brewer ao interpretar a Lola e Alice ao
mesmo tempo. Mesmo sendo uma só elas carregam identidades diferentes. A atriz mostrou
a face sexy de Lola na frente das câmeras ao mesmo tempo em que conseguiu
realçar o jeito despojado e relaxado da Alice no dia a dia. Esse filme foi
incrível para a Madeline. Já a vi atuando como uma Aia em The Handmaid’s Tale e
eu achei sensacional o seu papel, e ver um filme em que ela é a protagonista só
fortalece ainda mais o seu talento – e eu, de verdade, espero vê-la atuando
cada vez mais.
Me senti dentro do personagem em
muitos momentos do filme. A Lola se dispôs a passar por muitas coisas extremas
para chegar cada vez mais perto da sua meta, e as vezes eu ficava agoniada pensando
que não iria dar certo. A forma que eu entrei no personagem foi incrível e sabemos
que essa foi a intenção.
Fiquei muito contente ao ver que
quem escreveu o roteiro foi uma mulher. A Isa Mazzei, pelo que eu andei
procurando, também era uma camgirl. Ela mesmo disse que ouviu coisas horríveis
durante essa fase da vida dela, então eu creio que essa experiência trouxe uma
realidade muito pontual sobre o que acontece dentro desse mundo. Claro, eu sou
leiga nesse assunto então não tenho um aprofundamento concreto sobre isso, mas
de qualquer forma eu achei tudo o que aconteceu muito sensacional e nada tão
fantástico. (A Isa inclusive deu uma entrevista incrível, deixarei no final da
resenha).
Não posso deixar de comentar também sobre o diretor, né? Acho que o Daniel não entregou demais nem de menos. Ele soube dosar muito bem o suspense. A todo momento nos perguntávamos "MAS COMO É QUE TA ACONTECENDO ISSO????"
A trama, sem sombras de dúvidas,
é muito envolvente e nos deixa intrigado sobre como vai acabar. A pessoa que
está por trás disso tudo não é desmascarada, mas acho que se isso acontecesse e
mostrasse realmente um 'alguém', perderia a graça (vocês entendem melhor vendo). É um final que deixa aberto para várias possibilidade e interpretações.
ÚLTIMA COISA, prometo (não quero que essa crítica fique longa). Você já parou para pensar em como deve ser a vida de uma camgirl? O que ela faz fora da câmera ou quem ela é? Ela pode ser sua prima ou sua vizinha. Independente disso, você já pensou no que ela passa? Sim, é uma escolha dela entrar nesse mundo, mas isso não significa que ela tenha que ser tratada como uma put* indigna ou coisa assim. Bem, estou falando disso porque a Alice chegou a ligar para os policiais para ver se eles a ajudavam, mas eles simplesmente olharam para ela e falaram "ah, to nem aí, tenho mais coisa pra fazer". Um policial até chegou a falar alguma coisa como "você sai com os seus clientes? Sabe, se você quiser... Eu tô aqui.", tipo... Gente, ela é uma pessoa como eu e você! Se ela faz isso, não cabe a mim tratá-la como lixo ou como se não sofresse nem sentisse nada. Sabe, eu fiquei muito brava e fiquei com vontade de dar um murro (eu sei que isso não se deve fazer, autoridade e tal).
TOP 4 ATITUDES ESCROTAS QUE FEZ EU TER VONTADE DE DAR UM MURRO:
1° "Se não quer que isso aconteça, saia disso! Culpa sua"
2° Aquele que dá presente só para atrair a presa. Como não resistir, né?
3° O carente que quer cuidar só porque acha que a mulher é frágil. Awn, certeza que é ela a frágil, meu anjo?
4° O que não sabe respeitar o espaço da mulher e não aceita o "não" e o errado ainda por cima é ela só porque trabalha com isso, né? Tem que aceitar.
Altas doses de ironia por aqui. Sim, fiquei revoltadíssima e vocês nunca me viram assim, pelo menos a Alice me ensinou a ter empatia no meio de tantos comportamentos machistas e abusivos. Hipocrisia, né.
Cam é um thriller que mexe de
forma sútil (ou nem tanto) com a nossa consciência. O filme me fez refletir sobre os limites
da internet e até que ponto devemos ir com o mundo virtual – sabemos que não é
nada confiável. Além disso, a película me fez pensar também sobre a imagem que nós queremos
passar para os outros e o que/ quem realmente somos. Fazer determinadas coisas
para um outrem realmente vale a pena? Qual é o fim disso tudo? Talvez não exista uma explicação.
Indico muito! Nota: 4,5/5
Entrevista com a roteirista: clique aqui