segunda-feira, janeiro 07, 2019

[Resenha] Oryx e Crake


Livro: Oryx e Crake
Autora:  Margaret Atwood
Páginas: 352
Ano: 2018
Skoob

Sinopse: Em Oryx e Crake, a prosa sofisticada de Atwood viaja até um futuro próximo, ainda bastante familiar, mas ao mesmo tempo estranho e bizarro para o leitor. O mundo é apresentado como um lugar pós-apocalíptico e melancólico, habitado por criaturas biologicamente modificadas e tomadas pelo vício. O resultado é uma distopia absolutamente original, um lugar onde a civilização e a linguagem desapareceram quase completamente. Primeiro de uma trilogia que inclui O ano do Dilúvio e se encerra com o ainda inédito Maddadão, Oryx e Crake consolida Margaret Atwood como um dos grandes nomes do gênero ficção científica, com histórias marcadas por questões éticas e morais sobre o futuro da humanidade.

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A história, que não tem uma data certa, ao longo da narrativa mostra para o leitor um mundo futurístico onde o homem não só modificou plantas, mas também o material genético dos animais, conseguindo, portanto, desenvolver seres mais inteligentes e resistentes para suprir órgãos que nós, humanos, que não conseguimos repor. Entretanto, como consequência a essa modificação, uma catástrofe esgotou os recursos – restando fome – e dizimou a raça humana. O Homem das Neves, antigamente chamado de Jimmy, é o último sobrevivente da espécie Homo Sapiens. Vivendo em um mundo pós-apocalítico, ao mesmo tempo em que o Homem das Neves precisa lutar contra a fome, ele precisa também enfrentar as suas últimas memórias sobre como era a vida antes dessa catástrofe.

O Homem das Neves convive com os Filhos de Crake, uma nova espécie de humanos (2.0, podemos dizer), que são geneticamente modificados sendo assim mais inteligentes e com um corpo que se adapta de forma célere dependendo do ambiente. Eu achei cômico a parte dessas crianças porque elas não sabem nada sobre os humanos e tratam o Homem das Neves como se fosse um Deus. Ele conta algumas histórias e os Filhos de Crake fazem perguntas ingênuas (ele quase teve que explicar o que era uma torrada, por exemplo).


Narrado fora de cronologia, ao longo da narrativa o nosso personagem principal nos mostra suas lembranças por meio de inúmeros flashbacks. O Homem das Neves nos apresenta a sua vida antiga como Jimmy. O seu pai estava envolvido em uma dessas modificações e eu achei essa parte bem chocante. Imagina receber um novo cérebro que um porco desenvolveu? Houve também uma parte horrível em que cogitaram colocar um tipo de bactéria em uma vacina para a pessoa adoecer. “Nada demais”, segundo eles. Seguindo essa lógica, quanto mais as pessoas adoecessem, mais eles venderiam mais remédios. Gente?? O mercado que fazia essas modificações sabia que a população consumiria até perder a noção do certo e do errado, e é aí que entra o perigo. Qualquer pessoa que fosse contra e tentasse denunciar esse comércio sofreria as consequências. De verdade, essa parte me marcou bastante pois eu não acho que é algo muito difícil de acontecer.

– (...) Mas não estão sempre descobrindo novas doenças?
– Descobrindo não – disse Crake. – Estão criando, isso sim.
(...)
– (...) Eles põem os organismos hostis em comprimidos de vitamina, aquela marca famosa da HelthWyzer que é vendida em varejo, sabe? Eles têm um sistema de contágio realmente sofisticado, inserem um vírus dentro de uma bactéria tipo E. coli, que não é digerida, explode no piloro e bingo!

Os flashbacks do nosso personagem não mostram somente o mundo antes da desgraça acontecer, mas ele também recorda de seu amigo Crake, anteriormente chamado de Glenn. Ele é um personagem muito cativante porque tinha conhecimento de tudo que acontecia e sabia exatamente como o sistema funcionava. Crake fez críticas enormes e no final foi fundamental em relação a tudo o que aconteceu. No início eu não dei nada para ele, pensei que seria mais um personagem e ok, mas Crake me surpreendeu bastante.

Temos também Oryx, a melhor personagem para mim. Oryx é uma garota que Jimmy encontrou em um site pornô que explorava a pedofilia. Jimmy, ao olhar para os olhos de Oryx, se apaixona de imediato. As coisas que a Oryx passou são nojentas demais e eu não consigo nem expor nessa resenha – e se eu fizesse isso ficaria totalmente sem graça. Na minha opinião ela tem um papel muito importante na história e eu adorei acompanhar a vida dela em breves páginas.

– A natureza está para os zoológicos assim como Deus está para as igrejas.
– O que quer dizer? – disse Jimmy. Ele não estava prestando muita atenção, estava preocupado com os frangos sem cabeça e os lobocães. Por que ele tinha a sensação de que uma linha fora cruzada, uma barreira fora ultrapassada? Tudo não teria ido longe demais?
– Essas paredes e barras de ferro estão aqui por uma razão – disse Crake. – Não para nos manter do lado de fora, mas para mantê-los do lado de dentro. A humanidade precisa de barreiras, em ambos os casos.
– Para se defender de quê?
– Da Natureza e de Deus.
– Pensei que você não acreditasse em Deus – disse Jimmy.
– Eu também não acredito na Natureza – disse Crake. – Não com N maiúsculo.

Entramos em uma escrita fluída, porém rica de detalhes que é preciso prestar muita atenção para não se perder no meio da leitura. É por meio desse universo detalhista e cheio de dúvidas que as coisas começam a fazer sentido. As primeiras páginas podem ser confusas, mas conforme avançamos a leitura as peças do quebra-cabeça começam a se juntar e, no final, ficamos admirados com o talento de Margaret Atwood. Além de que a história é cheia de reviravoltas incríveis que nos deixa de boca aberta.

Apesar dos detalhes serem algo positivo na leitura, principalmente porque é um livro de ficção e eu acho que nesse caso é necessário, ler em uma sentada só pode ser cansativo. Eu, por exemplo, li super devagar e eu acho que foi bom, pois soube apreciar as minúcias. Há algumas explicações de biologia e isso talvez seja algo ruim e cansativo para alguém que não está que não está habituado a esse estilo de história – tirei uma estrela por esse motivo.


Margaret faz uma crítica incrível à sociedade em que vivemos. Há uma crítica ao capitalismo e ao seu modo de funcionamento, principalmente sobre produzir coisas sem saber a consequência disso para o futuro. Sabe, vivemos em uma época em que muitos não se importam em preservar, não ligam para o depois e se tiver que matar e usar algum ser vivo de cobaia, eles irão usar. A questão da vacina que eu apontei lá em cima: esse problema está tão longe da nossa realidade? Tínhamos a Bayer e a Monsanto... De qualquer forma, nunca iremos saber.

“Oryx e Crake” é o primeiro de uma trilogia, mas acho que os livros podem ser lidos separadamente. Creio que essa leitura é indispensável para quem adora um livro de ficção especulativo/distopia. Margaret tem um olhar aguçado sobre as coisas que acontecem e faz uma crítica incrível, não é à toa que essa autora está alcançando cada vez mais sucesso. Merecido, inclusive!




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